Mas como era mesmo o nome do Santo?
Viviane Almeida
Nem era dia do santo, mas ela foi até a igreja assim mesmo. Ajoelhou-se diante da imagem,
era São Judas Tadeu. Acendeu vela, colocou flores no altar e rezou, mesmo sem saber uma
reza sequer que pudesse agradar o santo. Para dizer a verdade, nem acreditava em santos ou
milagres, e muito menos sabia o que lhe passou por sua cabeça, mas estava ali, ajoelhada
e precisava rezar...
Falou com o santo, fez promessa, rasgou o verbo, chorou, olhou para os lados, não havia
ninguém, então berrou mais alto para que o santo pudesse ouvir melhor, pois ouvira dizer
que ao falar com os santos era necessário falar alto, não porque eles fossem surdos, mas
para o pedido ser atendido rapidamente. E ela tinha pressa!
Tocou o manto do santo, diziam que era sagrado, mas não sabia se era tão sagrado, pois
não acreditava mesmo nessas coisas, mas estava lá a rezar e tocar o manto vermelho e as
sandálias dos seus pés. Olhou para os olhos do santo, seu corpo gelou e pôs-se mesmo a
rezar.
Acendeu outra vela. Tirou da bolsa um lenço, as lágrimas lhe desciam pelo rosto. Falava
com o santo sobre o desejo que queria realizar. Estava no lugar certo, o santo devia ser
mesmo eficiente, era o das causas urgentes, então... pediu com mais urgência ainda, pois
seu coração estava a se desfazer.
Nem sabia direito o nome do santo, pensou ser Antonio, mas não era, o Santo Antonio tinha
um filhinho nos braços, esse não tinha... mas como era mesmo o nome do santo? Ela não
lembrava, porém não se importou, chamou-o de "santinho". Daí pensou que
pudesse estar na igreja errada. Será que o santo era mesmo aquele, o que apressa os
milagres? Parou a reza, olhou para o lado, viu uma beata, limpou os olhos e perguntou:
Essa é mesmo a igreja do santo das causas urgentes? E a beata respondeu-lhe:
Das causas urgentíssimas, é São Judas Tadeu, minha filha!
Daí se lembrara que realmente era esse o nome do santo e ficou feliz, pois estava
enganada, não era o das causas urgentes, era o das causas urgentíssimas. Então, pôs-se
novamente de joelhos, tirou o lenço mais uma vez da bolsa e desatinou a pedir, chorar,
suplicar....
Ficou ali por horas até decidir encerrar a sessão de pedidos ao santo, não queria ser
pegajosa com ele, mas voltou a pedir, só mais um pouquinho, por um milagre que alegrasse
o seu coração. Levantou-se, guardou o lenço na bolsa, olhou bem para o santo e sabia
que seria atendida. Colocou-se em direção à porta de saída, olhou a rua, respirou o ar
que não era tão limpo, a cidade estava poluída, sentiu uma leve brisa no rosto e foi em
direção à parada de ônibus com a certeza de que não precisaria mais inventar rezas
que não sabia e rogar ao santo das causas urgentíssimas, pois em seu coração já havia
a certeza de que o milagre aconteceria.
E aconteceu... o santo era mesmo eficiente! Ele veio... o amor que ela tanto esperava, da
maneira como ela sempre quis e chamava-se Lutério. Tudo bem que o nome não era assim
tão bonito, mas era exatamente por ele que ela havia suplicado aos pés do santo e rezado
uma reza que desconhecia.
Então, ela acordou, molhada de suor, pois a noite era quente... Olhou o relógio, ainda
eram três da manhã, voltou a dormir e às seis da manhã, levantou-se, pôs a melhor
roupa, um lenço e um maço de velas na bolsa, foi à parada de ônibus e pôs-se ao
caminho da tal igreja que vira no sonho.. Quem sabe o santo era mesmo o das causas
urgentíssimas e poderia transformar o seu sonho em realidade...
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