Beira de estrada
Tiago Barreto
Não se sabe se serviam. Nem eles se sabiam. Augusta, menos amante e mais comedida, tinha
vida e se fez sumida. Não sumida, s?cruzou estrada, mas para Pardal, j?era causa e
mulher perdida. De Feliz a Ex-noivo, de Noivo a Infeliz, Pardal j?nem sabia a que nome
atendia.
Do lado outro, não da vida, da terra batida, outro um joãovagante. Vestia bem, dizia
bem. Melhor tarde do que nunca alguém assim no fim do mundo. Não chato nem inchado igual
Pardal. Mais comprido, nem por isso difícil igual montes de caminho
Aparecido.
Mãos vazias, cabeça não. Ora, vinha de baixo, direto e reto, pra terra comprar. Alto e
queimado, com mania de mandar e ser. Árvores, cores, cerca e Augusta. Tudo queria, e
podia.
Augusta, mais perdida que peixe na catinga, fez-se amante. Pernas peladas, peito em riste,
cabelos voados. Lavadeira ontem. Pra Aparecido, da vida. Carro adentro, suor na testa.
Panos, farelos, galinha. At?cortina o caminhão tinha. A cama quebrada, de p?virado,
Augusta batizou Serventia. Jogou a carcaça l?em cima, riu mostrando janela preta.
Aparecido, o fora-esteiro, tinha mais uma galinha. Pinga na mão, Augusta na outra,
embebedou, que não ?doido nem nada. S?de fogo ?que teria coragem e fogo
pra dar a Augusta suas estrelas.
L?fora o escuro fechava. Quem vivia via o carro em brasa, sem entender nem desentender.
Passou tempo e bando cheio de curioso-sem-que-fazer. Vaqueiro, vaquejada, dona, mui?
rebento, rebentado, padre, ateu, padre-ateu, doutor, saci, mula, dono, moribundo. Haja
beira de estrada pr?tanta platéia sem mais o não ver. Do casa-caminhão, calor e
chacoalhação quase proferiam Não tem ninguém, deixa recado! Se bem que tinha, e
isso at?surdo sabia.
Aparecido s?deu por si no fim da garrafa. E Augusta, Dita Cuja largada e jogada de
repente, num repente de sanidade do Seu Desejo, chorou suor. Cabeça erguida na boleia,
fez paixão ausente. O não-querer ficou claro de deixar olhos cerrados. Parado o chão,
tremeu as mãos. Assustou em volta, lembrou de ser Augusta. Sem mania de ter vida, murchou
igual rosa que não vinga na catinga. Coçando um pouco, nem olhou para o ex-amante, que
fechava braguilha e garrafa. Sem querer o p?chutou a Augusta. Nem soube o que fazia, nem
arrependia. Sumiu sem lembrança ou causa. Igual quando apareceu. Do Aparecido sobrou s?
a marca no chão. Que em verdade, era do caminhão.
Vexada e botada pra fora, Augusta encobria e sorria contrária. No meio do formigueiro, se
protegia de comentários que picavam. Nariz pra baixo, queixo pra cima caçando Pardal.
Amor de burro não morre, e o Seu Pardal ou Seu Amor apareceu. Nem caiu em si no
acontecido. Melhor, assim não machucou.
E-Mail: tiago_barreto@hotmail.com
|