
Constanze Mozart (1983),
também conhecida por Srta. Stanzi, é natural de Campinas (SP) e jura que nunca teve uma
publicação em jornal, revista ou qualquer veículo que valha, pois nunca tentou algo
desse tipo. É, segundo afirma, uma escritora frustrada. Cursa publicidade e
propaganda na ESPM / ESAMC e realiza paralelamente seus estudos de piano com afinco,
para, talvez, chutar a futilidade da propaganda e cair de dedos no incrível e maravilhoso
mundo musical. Diz ser "dona de boletins subversivos e redatora oficial de minha
turma de faculdade, conhecida por ser irônica e hilária quando me convém, porque quando
não me convém sou uma verdadeira mala e acabo escrevendo coisas que só eu
entendo.". Apaixonada pelo escritor colombiano Gabriel Garcia Márquez, é tricampeã
na leitura de Cem Anos de Solidão tem verdadeiras crises de histeria quando ouve seu
nome. Por ser muito tímida, prefere não revelar o nome verdadeiro e usar um pseudônimo. |
Missa fúnebre
Constanze Mozart
Com licença, mas esse caso eu preciso contar...
Pois não?
Sabe como é, né? Fila de banco é fogo. Minha língua arde. Preciso falar alguma
coisa.
Entendo, entendo.
Obrigado. A vida é estranha, o senhor deve saber como é, certo? É esquisito.
Numa hora estamos aqui, na fila de um banco, esperando o pagamento, no outro, estamos
dentro de um caixão, sendo pranteados. Olhe como é estranho: meu pai morreu faz uns doze
anos e nunca fomos visitar seu túmulo.
Que coisa.
Pois é. E não pense, por favor, que somos filhos desnaturados. Não é isso. É
que o cemitério fica tão longe...duas quadras, na verdade. Mas a preguiça mata. Tanto
que meu pai morreu e nós herdamos esse mal. Somos em oito. Oito homens preguiçosos e só
um se casou.
Sei, sei.
E esse que casou é o primogênito. Teve um filho que tinha sete anos quando meu
pai morreu. É engraçado, sabe? Hoje o menino tem dezenove anos e, no ano passado, quis
de aniversário uma coisa esquisita.
O quê?
Lavar, limpar e pintar o túmulo de meu pai. É a vida. Achamos que papai tivesse
tomado posse do meu sobrinho exigindo a limpeza de seu túmulo.
Nossa.
Pois é. E fomos, eu e meu sobrinho, lavar, limpar e pintar o túmulo do falecido.
Nunca tinha entrado no cemitério, nem meu sobrinho. Localizamos o túmulo e, enquanto eu
lavava, limpava e pintava, André soprava as velas que estavam em cima do outro túmulo.
Até que a boca dele entortou. Deu derrame.
Puxa.
Puxa? Isso não é nada. Mesmo com a boca torta, ele ajudou a limpar o túmulo.
Sabe o que é limpar um túmulo que há doze anos não era limpo? Quase morri e me
enterrei ali mesmo. Tá vendo a minha boca torta? Também entortou no cemitério.
Você também assoprou as velinhas?
Não. Pintei o túmulo errado.
Email: srta_constanze@yahoo.com.br
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