O Gato e a Canária
Ana Patrícia
Holanda
Era uma vez, na época em que os bichos falavam, uma linda canarinha
que adorava cantar no galho mais alto de uma bela árvore fincada no
meio de uma imensa floresta.
Certa vez, estava a canarinha em sua árvore quando um gato, desses
majestosamente silenciosos e elegantes, ouviu seu canto e pensou:
Almoço. Aquela avezinha seria perfeita como prato principal.
Paulatinamente, o gato galgou cada galho daquela árvore até chegar
ao galho em que aquela encantadora criatura estava. Pata ante pata,
aproximou-se e, quando finalmente decidiu atacá-la, caiu, despencou.
A canarinha voara, safando-se do gato, que no chão miava de dor
porque quebrara a pata dianteira.
Compadecida, a avezinha juntou gravetos e cipós, construiu uma
tipóia e cuidou da pata quebrada do felino. Depois, prontificou-se a
levar comida para o gatinho todos os dias.
Com o passar dos dias, gato e canária foram se aproximando mais e
mais. Ficaram amigos. Passaram a se encontrar cotidianamente, mesmo
depois do gatinho ter se curado.
Os outros animais comentavam: - Onde já se viu! Canária e Gato agora
são amigos. É o fim dos tempos!
O falatório chegou ao conhecimento dos pais da canarinha que, como
bons pais, resolveram dar um basta. Decidiram que era hora da filha
casar. Escolheram o noivo: um jovem canário, de linda voz e belo
porte.
Quando a canarinha soube da decisão ficou muito triste. Não queria
casar-se. Queria mesmo era continuar vendo seu grande amigo todos os
dias. Mas não havia como resolver. Casava-se ou iria para a
clausura.
Decidiu então contar ao amigo seu cruel destino. O gatinho ficou
desolado. Foi quando percebeu que amava a amiga.
Ao cair da noite, a lua apareceu, esplendorosa, e viu que o gato
estava desconsolado. Ela perguntou se poderia ajudar e ele
respondeu:
- Oh! linda Lua, meu destino é triste, apaixonei-me pela criaturinha
mais cândida desta floresta e não tenho permissão da própria
natureza para ser seu fiel companheiro. Sou mesmo um desafortunado.
- Ora, Gato, meu amigo Gato. Amor não é infortúnio, é o bem maior
que nos cabe. Declare seu amor e tudo se resolverá. Veja meu caso,
só encontro meu amor quando há eclipse e fico feliz por isso.
O que o gatinho queria mesmo era ter nascido canário. Mas, depois da
conversa com a lua, resolveu abrir seu coração para a canária, que o
escutou atentamente. E os dois, em um instante de lucidez,
resolveram que o melhor seria continuarem amigos, pois sequer
poderiam ter filhos um dia.
O dia do casamento chegou. A canarinha estava mais bela que nunca.
E, para surpresa dos convidados, o padrinho era o gato, que, aliás,
foi a grande atração da festa para a criançada, pois brincou com
todos os filhotes de pássaros como se fosse um parente.
Depois de algumas semanas, o gatinho, ainda triste por ter perdido a
amiga, estava deitado à sombra da árvore onde conhecera a canarinha
quando passou uma belíssima gatinha, fazendo-o esquecer por que
estava deveras melancólico.
MAIS TEXTOS DA AUTORA EM:
Recanto das Letras
|