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Uma grande idéia
Lúcia Carvalho
Todos nos temos muitos amigos gays. Ainda bem que esse assunto deixou de ser tabu e que
podemos conviver com famílias hetero, homo ou bisexuais sem problema nenhum.
Mas tem uma coisa que me aflige: eu nunca sei como chamar o marido ou
esposa de um amigo gay. Por exemplo: estou conversando com um amigo e quero
convidá-lo para jantar. Como eu falo?
Oi, Alberto, vou fazer um jantar em casa. Queria convidar você e seu... seu...
marido? Esposa? Companheiro? Namorado? Namorada?
Eu sempre engasgo. A questão é que não existe um nome para um parceiro gay.
Ora, se até o filho da mulher nova do pai separado tem um nome (enteado), porque é que o
parceiro gay dos amigos da gente não pode ter? Acho isso um grande preconceito da língua
portuguesa. Eu, que tenho filhos, me embaralho toda para explicar quem são os
amigos dos meus amigos para as crianças.
E tudo, claro, porque não temos uma palavra adequada.
Além disso, termos uma palavra para designar uma pessoa que a gente não lembra do nome
é absolutamente necessário.
Imagina se não existisse a palavra tia.
Como a gente ia se virar nas festas de família? Hein?
Assim, um tempo atrás eu resolvi inventar um nome para parceiros gays. Tive
uma idéia, vê se não é ótima: zigoto.
Zigoto, gente, é uma palavra muuuito boa. Zigoto não é homem nem mulher, é
uma palavra bem humana e bastante assexuada. Pensa: Fulano é zigoto do
Sicrano.
Ótimo Zigoto, gente.
Mário, estou te convidando para jantar em casa. Não esquece de levar o seu
zigoto, hein?
Essa aqui é a Lílian, meu zigoto.
Não conhece o Jorge? Ora, o Jorge é meu zigoto, ora!
E, se minha idéia pega e as leis brasileiras mudam, quem sabe daqui a uns anos a gente
não pode ouvir essa frase?
Luis Carlos, aceita esse homem como seu legítimo zigoto?
Lúcia Carvalho, paulistana nascida em 1962, é arquiteta e escritora. Teve
uma de suas crônicas Mulheres, mães e mindinhos publicada no livro
Buscando o seu mindinho um almanaque auricular, do escritor Mário
Prata, Editora Objetiva Rio de Janeiro, 2002. Participa, como cronista, de um livro
sobre espaços escolares, que foi distribuído pelo MEC para todos os diretores de
escolas públicas do Brasil, sob o título "Espaços e Pessoas", onde, segundo
Lúcia, minhas crônicas (são 10, uma para cada espaço) iniciam cada um dos
capítulos e são muito divertidas." Também publica eventualmente, como
colaboradora, crônicas na Revista da Folha de São Paulo e no Moda Almanaque.
Visitem seu blog em http://www.frankamente.blogspot.com
O texto acima nos foi enviado
diretamente pela escritora.
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