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A
Queimada
Lêdo Ivo
Queime tudo o
que puder:
as cartas de amor
as contas telefônicas
o rol de roupas sujas
as escrituras e certidões
as inconfidências dos confrades ressentidos
a confissão interrompida
o poema erótico que ratifica a impotência
e anuncia a arteriosclerose
os recortes antigos e as fotografias amareladas.
Não deixe aos herdeiros esfaimados
nenhuma herança de papel.
Seja como os
lobos: more num covil
e só mostre à canalha das ruas os seus dentes afiados.
Viva e morra fechado como um caracol.
Diga sempre não à escória eletrônica.
Destrua os
poemas inacabados,os rascunhos,
as variantes e os fragmentos
que provocam o orgasmo tardio dos filólogos e escoliastas.
Não deixe aos catadores do lixo literário nenhuma migalha.
Não confie a ninguém o seu segredo.
A verdade não pode ser dita.
Lêdo Ivo é jornalista e escritor de prosa e verso. Nasceu em Maceió, Alagoas,
no dia 18 de fevereiro de 1924. Faleceu no dia 23 de dezembro de
2012, aos 88 anos, na Espanha.
Em Recife (PE), para onde se transferiu em 1940, continuou seus estudos e passou a
colaborar na imprensa local, o que lhe proporcionou conviver com os intelectuais daquela
cidade. Dedicou-se à vida literária, participando do I Congresso de Poesia do Recife em
1941.
Em 1943, transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde se matriculou na Faculdade Nacional de
Direito da Universidade do Brasil e passou a colaborar em suplementos literários e a
trabalhar na imprensa carioca, como jornalista profissional. Foi redator da Tribuna
da Imprensa e da revista Manchete, colaborador de O Estado de São
Paulo e editorialista do Correio da Manhã.
Seu primeiro livro de poesias, As imaginações, foi lançado em 1944.
Formou-se em 1949 pela Faculdade Nacional de Direito, mas nunca advogou, preferindo
continuar exercendo o jornalismo.
No início de 1953, foi morar em Paris. Visitou vários países da Europa e, em agosto de
1954, retornou ao Brasil, voltando às atividades literárias e jornalísticas. Em 1963, a
convite do governo norte-americano, realizou uma viagem de dois meses pelos Estados
Unidos, pronunciando palestras em universidades e conhecendo escritores e artistas.
Em 1982, Lêdo Ivo foi distinguido com o Prêmio Mário de Andrade,
conferido pela Academia Brasiliense de Letras ao conjunto de suas obras. Em 1986, recebeu
o Prêmio Homenagem à Cultura, da Nestlé, pela obra poética. Eleito Intelectual
do Ano de 1990, recebeu o Troféu Juca Pato do seu antecessor nessa láurea, o
Cardeal Arcebispo de São Paulo, Dom Paulo Evaristo Arns.
Lêdo Ivo é considerado uma das figuras de maior destaque na moderna literatura
brasileira, notadamente na poesia. Seu romance Ninho de cobras (1973) foi traduzido para o
inglês, sob o título Snakes Nest, e em dinamarquês, sob o
títuloSlangeboet. No México, saíram várias coletâneas de seus poemas,
entre as quais La imaginaria ventana abierta, Oda al crepúsculo,
Las pistas e Las islas inacabadas. Em Lima, Peru, foi editada uma antologia,
Poemas, e na Espanha saiu a antologia La moneda perdida.
Eleito em 13 de novembro de 1986 para a Academia Brasileira de Letras, Cadeira nº 10,
sucedendo a Orígenes Lessa, foi recebido em 7 de abril de 1987, pelo acadêmico Dom
Marcos Barbosa.
Obras:
As imaginações, poesia (1944);
Ode e elegia, poesia (1945), Prêmio Olavo Bilac da Academia Brasileira de Letras;
As alianças, romance (1947), Prêmio de Romance da Fundação Graça Aranha;
Acontecimento do soneto, poesia (1948);
O caminho sem aventura, romance (1948);
Ode ao crepúsculo, poesia (1948);
Cântico, poesia (1949);
Linguagem, poesia (1951);
Lição de Mário de Andrade, ensaio (1951);
Ode equatorial, poesia (1951);
Um brasileiro em Paris e O rei da Europa, poesia (1955);
O preto no branco, ensaio (1955;
A cidade e os dias, crônicas (1957), Prêmio Carlos de Laet, da Academia Brasileira de
Letras;
Magias (contendo: Os amantes sonoros), poesia (1960);
O girassol às avessas, ensaio (1960);
Use a passagem subterrânea, contos (1961);
Paraísos de papel, ensaio (1961);
Uma lira dos vinte anos, reunião de obras poéticas anteriores (1962);
Ladrão de flor, ensaio (1963);
O universo poético de Raul Pompéia, ensaio (1963);
O sobrinho do general, romance (1964);
Estação central, poesia (1964);
Poesia observada, ensaios (1967);
Finisterra, poesia (1972), Prêmio Luísa Cláudio de Sousa, do Pen Clube do Brasil;
Prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro; Prêmio da Fundação Cultural do Distrito
Federal e Prêmio Casimiro de Abreu, do Governo do Estado do Rio de Janeiro;
Modernismo e modernidade, ensaio (1972);
Ninho de cobras, romance (1973), Prêmio Nacional Walmap;
O sinal semafórico, reunião de sua obra poética, desde As imaginações até Estação
central (1974);
Teoria e celebração, ensaio (1976);
Alagoas, ensaio (1976);
Confissões de um poeta, autobiografia (1979), Prêmio de Memória da Fundação Cultural
do Distrito Federal;
O soldado raso, poesia (1980);
A ética da aventura, ensaio (1982), Prêmio Nacional de Ensaio do
Instituto Nacional do Livro;
A noite misteriosa, poesia (1982);
A morte do Brasil, romance (1984);
Calabar, poesia (1985);
Mar oceano, poesia (1987);
Crepúsculo civil, poesia (1990);
O aluno relapso, autobiografia (1991);
A república das desilusões, ensaios (1995);
Curral de peixe, poesia (1995). Prêmio Cassiano Ricardo, do Clube de Poesia de São
Paulo.
O texto acima foi extraído de "Lê Ivo, Poesia Completa 1940 - 2004.
Estudo Introdutório de Ivan Junqueira, Rio de Janeiro: Topbooks,
2004.
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