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O Navio Negreiro, Tragédia
no Mar (VI)
Castro Alves
Existe um povo que a bandeira empresta
Pr'a cobrir tanta infâmia e cobardia!...
E deixa-a transformar-se nessa festa
Em manto impuro de bacante fria!...
Meu Deus! meu Deus! mas que bandeira ?esta,
Que impudente na gávea tripudia?!...
Silêncio!... Musa! chora, chora tanto
Que o pavilhão se lave no teu pranto...
Auriverde pendão de minha terra,
Que a brisa do Brasil beija e balança,
Estandarte que a luz do sol encerra,
E as promessas divinas da esperança...
Tu, que da liberdade após a guerra,
Foste hasteado dos heróis na lança,
Antes te houvessem roto na batalha,
Que servires a um povo de mortalha!...
Fatalidade atroz que a mente esmaga!
Extingue nesta hora o brigue imundo
O trilho que Colombo abriu na vaga,
Como um íris no pélago profundo!...
...Mas ?infâmia de mais... Da etérea plaga
Levantai-vos, heróis do Novo Mundo...
Andrada! arranca este pendão dos ares!
Colombo! fecha a porta de teus mares!
Antônio Frederico de Castro Alves nasceu em Muritiba (BA), no dia 14 de
março de 1847. Em 1862, publica no "Jornal do Recife", onde morava em companhia
do irmão mais velho, "Destruição de Jerusalém". Em 1868 viaja para o Rio de
Janeiro, onde ?recebido por Jos?de Alencar e Machado de Assis. No dia 7 de setembro,
em São Paulo, declama "O Navio Negreiro", alcançando grande sucesso. O maior
romântico brasileiro e, com Tobias Barreto, um dos fundadores da escola condoreira,
inspirada em Vítor Hugo. Nativista, revelador da paisagem brasileira, republicano e
abolicionista o cantor do Navio negreiro ?o nosso grande poeta social e nacional.
O poeta faleceu no dia 06 de julho de 1871, em Salvador (BA). ?o patrono da Cadeira n?
7 da Academia Brasileira de Letras.
Obras:
Espumas flutuantes (1870)
Gonzaga ou a Revolução de Minas (1875)
A cachoeira de Paulo Afonso (1876)
Vozes d`África. Navio Negreiro (1880)
Os escravos, obra dividida em duas partes: 1. A cachoeira de Paulo Afonso; 2.
Manuscritos de Stênio (1883).
Obras completas. Edição do cinqüentenário da morte de Castro Alves, comentada, anotada
e com numerosos inéditos, por Afrânio Peixoto, em 2 vols. (1921)
Poesias Completas editada por J. Almansur Haddad (1952)
Obra Completa, editada por Eugênio Gomes (1960).
Este poema foi publicado no livro "A cachoeira de Paulo Afonso: poema original
brasileiro", em 1876.
Extraído do livro "Castro Alves - Obra completa", Editora Nova Aguilar - Rio de
Janeiro, 1960, organização e notas de Eugênio Gomes.
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